Esse não é um texto novo. Foi escrito assim que completei meus 40 anos. Hoje caminho para os 41, mas tenho considerações a fazer.
Quando o escrevi, não previ o que viria a seguir. Apenas esperava que fosse bom. Que a vida me surpreendesse.
E ela foi generosa, como nunca havia sido antes. 2015 foi o melhor ano da minha vida e veio com absolutamente tudo novo, como uma casa limpa e vazia, que vai-se tornando lar aos poucos.
Novos amigos, novas aspirações, novos amores e novos companheiros de quatro patas. À Filó juntaram-se Penny Lane, Goldiezilla e Sophie Bolota. Os gatos são os mesmos.
Uma nova vida, em branco.
Publico hoje esse texto até então privado, para que todos saibam que vale a pena um pouco de fé na vida.
Em breve conto sobre os 41.
A Casa
Como todos que saem de casa com o intuito de ficar fora por muito tempo, começo fechando as janelas.
Tranco as portas dos quartos, do corredor, da cozinha e finalmente a porta da frente da casa.
Nela ficam presos os meus medos, minhas dores do passado, meus monstros internos, minha baixa autoestima.
Essa é uma casa assombrada por muitos fantasmas. A escuridão de dentro nunca se mostrou no lado de fora. Tragou com um só fôlego de animal insaciável, sonhos e expectativas, esmagou projetos de vida, cortou a carne com suas vidraças, trancou o coração no sótão escuro, mas fortaleceu algo que perdurará.
Saindo da casa, eu a olho de frente e percebo que todas essas grades e o muro alto, impediram que muitos entrassem, mas impediram principalmente que eu saísse.
Saio agora.
Saio levando um menino sensacional de 11 anos, uma cadela louca resgatada chamada Filó, um gato chamado Gato e outro chamado Manoel.
Minha mudança se resume a uma mala de livros que me foram a salvação em inúmeros momentos.
Não preciso de ajuda com a mudança, pois, a nova casa está no outro quarteirão.
Caminhamos juntos pela alameda, pisando nas folhas caídas e sentindo o vento fresco da melhor estação do ano. O som que vem das copas, que dançam, é delicioso.
Cheguei.
Chegamos.
Paro em frente à nova casa.
Ela é linda.
Um sobrado antigo de cor azul profundo, com seus florões e adornos em branco. Portas e janelas em jacarandá amarelo. Um lindo contraste. Tudo está aberto. E não tem muros. Um jardim o rodeia e sinto o cheiro das flores.
Na nova casa, quem entra é bem-vindo e quem sai, vai em paz.
Do lado de fora posso sentir o cheiro de casa limpa. Aquela sensação deliciosa de se entrar num ambiente cheirando a frescor.
Apesar de ainda vazia, aos poucos será decorada.
Boas memórias, excelentes amigos, família reunida, risadas, noites de cinema, flores naturais, cheiro de comida gostosa vindo da cozinha, bons vinhos, boas conversas, ideais fortalecidos e uma imensa e inexorável paz.
Nela não há escuridão. Nela não há dor excruciante. Nela não há medo.
Pedro e os bichos entram correndo pela porta da frente, mas eu espero.
Minha hora de entrar é 12:45 e ainda falta um tempinho.
Não há ansiedade, não há expectativas ilusórias, não há embustes.
Nesta casa nova haverá somente amor.
Sê bem-vindo aos meus 40 anos.