Mil desculpas. Eu mudei.

Recebo a sua carta pós-despedida, recheada de algum remorso, se não muito, e fico me perguntando o porquê de tê-la aceitado das mãos do Willian, meu carteiro.

Comecei a ler pelo fim, onde se lê: eu te amei.

Deveria ter parado nessa frase, carregada de pesadas correntes atadas a enormes bolas de ferro, que me prenderão a você por mais uma vida ou duas, ainda não sei.

Não há crueldade maior do que a notícia de um amor que nasce morto.

Não há sensação maior de impotência do que aquela que sentimos frente às possibilidades de amor, precocemente abortadas. Sente-se o sangue escorrer pelas pernas e fecundar a terra, que um dia há de engolir tudo.  Fecunda a terra e esvazia o coração.

O Antídoto

Se tivesse eu parado de ler nesta frase, não teria ficado sabendo que naquela noite em que resolvemos simplesmente deitar na grama e olhar as estrelas, você teve vontade de dizer que me amava. Lembro-me como se tivesse sido nessa madrugada e ainda consigo sentir o molhado do sereno nas minhas costas.

Você escolhe sempre a hora má. Está fazendo o mesmo agora. A hora passou, o tempo voou e sua oportunidade foi levada pelo vento.

Cada palavra que você escreveu nessa carta teria que ter sido dita na hora certa. Agora sou eu quem pede perdão por não poder mais dar o valor devido a elas.

Apesar do meu coração ainda estar de alguma forma atado, o resto está funcionando bem melhor. Clareza e intuição são exemplos disso.

Mil desculpas.  Eu mudei.

Monólogos prováveis

Epá, deixa-os estar, deixa-os roubar, deixa-os corromper e ser corrompidos, deixa-os aproveitar a real corrupção de um juiz também ele corrupto, deixa-os usar a desculpa do efectivo abuso dos media a soldo do fascismo, deixa-os usar o poder como escudo e lança, deixa-os em paz. O que interessa é manter a democracia, pujante e saudável.
 
[corta! o Brasil não vive em Democracia!]
 
– O que vem a seguir?
– Provavelmente uma ditadura.
– E preferes isso?
– Não, não prefiro. Mas não prefiro de todo um Estado sem direito e sem democracia.
– Um Estado sem direito e sem democracia? Então, mas isso é uma ditadura! E nós não vivemos em ditadura. Numa ditadura não há eleições.
– Não?
– Ok, há, mas são só faz-de-conta.
– Pois, lá está.
– Vais dizer que estas eleições foram só para disfarçar?
– Não, não foram. Mas a Dilma perdeu réstia de legitimidade no momento em que deu asilo ao Lula.
– Não concordo! E há mais uma coisa, uma democracia não vira ditadura.
– Jura! Tens a certeza?
– Mas como vai ser?
– Não sei, sei que não acredito em males menores.

Letras para um Brasil autofágico

De manhã, Lula não era Ministro. Entretanto, tomou posse, e virou Ministro. Depois, a tomada de posse foi suspensa. E o Ministro voltou à condição de Presidente. Não, não me enganei – nas gravações, todas ilegítimas, mas ora reais e factuais, ficou bem claro quem manda; e manda Moro e manda Lula e manda quem não foi eleito para mandar.

Entretanto, o juiz que suspendeu a posse, tinha uma página no facebook onde se mostrava claramente pró-impeachment. O Governo vai recorrer. Nisto, o Moro, que diz que é juiz, vai respondendo a notícias de jornal com despachos judiciais. A separação de poderes está completamente subvertida. O Lula assume, na escuta pós-detenção, que vai avançar com tudo contra a justiça em que já não acredita. E eu percebo, até entendo a rebelião (mentira). Mas não aceito a contradição (verdade). Ainda que perante a justiça feita partido político.

E sim, sou tuga, E sim, tenho tudo a ver com isto.

O Brasil tem tudo para ser feliz. E não pode resumir-se a estes donos disto tudo. O Brasil não é feudo do passado que Portugal lhes legou em futuro. E legou porra nenhuma. Aquele grito junto ao Ipiranga foi tão natural como a nossa sede.

Quem me dera ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado por ser inocente

É certo tudo o que é facto. De resto, sobra um imenso deserto de “chega desta merda!”. Há um povo para parir!

Perante este espectáculo, ninguém mais tem razão. Houvesse um botão de reset e eu nadaria o Atlântico para carregar nele. Mas não há.

E a solução está nos antípodas dessa guerra, em que todos matam e todos morrem. A solução, assevera a História, está nas pontes, não nos muros. Correr ao Planalto e queimar a Dilma, correr aos Tribunais e apedrejar o Moro e o Preta Neto nunca será solução. A solução não passa certamente por contar quem tem mais gente na rua.

Ou acabamos numa de “este país não é para gente”. Agoniados, vazados, vencedores derrotados. Ninguém, repito, ganhará batalha alguma. É que lutamos contra nós mesmos.

O que eu faria?, se pudesse? Marcaria eleições para ontem. Chega de intriga, chega de grampo, chega desse espectáculo autofágico. E depois, insistiria no que nos divide do caos. A Democracia, a Separação de Poderes.

Esta merda não é um jogo de futebol. A Democracia resolve; assim lhe dêem tempo e espaço.

Há um país urgente para reabilitar. E, oiçam; enquanto escrevi isto nasceram, aí, um milhar de meninas e meninos. Eles não merecem este legado. Renato Russo cantou que “Nos deram espelhos e vimos um mundo doente”. Renato, naquela letra dorida lá acima, não partiu espelhos. A exigência foi de um mundo saudável.

Ou então… Quiçá… Esqueçam… (e acabei de usar três reticências estéreis e formalmente erradas e mal colocadas; para que vejam o reticente que estou; como nos parágrafos seguintes).

Talvez o tal botão de reset esteja mesmo em queimar tudo e aproveitar as cinzas como adubo para criar algo de novo.

Ao contrário desses indigentes mentais que partiram a Democracia e pontapearam a separação de poderes, eu não sei nada. Moro (o oposto do que um juiz é), Lula (fuck you)… tudo farinha do mesmo saco. Reis de porra nenhuma. E Dilma, agora que as escutas são ouvidas (e ouvidas que estão, ouvidas foram; por mais que o Moro seja um filho da puta), és uma vergonha. Pára de pensar no “teu Presidente” (és ridícula), pára de pensar em como dar a volta ao texto. És uma dama num jogo de xadrez. Tens dono. As escutas saíram. Todo o mundo ouviu, Dilma. Marca eleições e sai de mansinho.

Terminando: sou visceralmente de esquerda. O Moro tem a desculpa de ser o vil que é (traiu o que se jurou). O Preta Neto teve os seus quinze minutos de fama. Vocês, Dilmas (atentai no plural), têm desculpa nenhuma. Traíram o Brasil, traíram a esquerda. Venderam-se por vinte e nove moedas.

E agora é que termino; o Che dava-vos um abracinho, agora, Dilmas. De urso.

“Se eu quisesse, enlouquecia”

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Edvard Munch, Despair

“Se eu quisesse, enlouquecia.
Sei uma quantidade de histórias terríveis.
Vi muita coisa, contaram-me casos extraordinários, eu próprio…
Enfim, às vezes já não consigo arrumar tudo isso.
Porque, sabe?, acorda-se às quatro da manhã num quarto vazio, acende-se um cigarro… Está a ver?
A pequena luz do fósforo levanta de repente a massa das sombras, a camisa caindo sobre a cadeira ganha um volume impossível, a nossa vida… compreende?… a nossa vida, a vida inteira, está ali como… como um acontecimento excessivo…
Tem de se arrumar muito depressa.
Há felizmente o estilo.
Não calcula o que seja?
Vejamos: o estilo é um modo subtil de transferir a confusão e violência da vida para o plano mental de uma unidade de significação.
Faço-me entender?
Não?
Bem, não aguentamos a desordem estuporada da vida.”

HERBERTO HELDER
Os Passos em Volta

Apesar de você

Querido fulano,

Gostaria que você pudesse me ver agora, apesar de ser bastante grata por você não poder.

Eu ando lá em cima, caminhando em nuvens e fazendo de estrelas, meu cobertor.

Você logo acharia que é amor. Não estaria de todo errado. É amor, sim. É muito amor. É amor demais. Mas não amor romântico.

Amor pelo que sou hoje, apesar de você. Tudo, apesar de você.

Amor pela batalha interna que travei por anos, e que ganhei, apesar de você estar sempre a postos para me derrubar.

Amor pelos que me ajudaram e pelos que não me ajudaram. Cada um me ensinou algo.

Amor por cada cicatriz que você me deu. Eu não esquecerei nunca, mas as colori com flores. Muitas flores espalhadas pelo corpo. Não mais me fazem mal, porque hoje só vejo o jardim na minha pele.

Amor pela vida que anda cada vez mais surpreendente. E como mudou! Nossa, nunca poderia cogitar a possibilidade de ter a vida que tenho hoje. Acredite. É de uma gostosura ímpar, apesar de você.

Amor pela gente linda que anda cruzando meu caminho meio torto. Gente que não está nem aí para a vida alheia, para o meu passado e que só quer fazer o bem.

Amor por mim. Muito amor por mim. Amor sem fim por mim.

Amor pela mulher que não se partiu.

Amor pela mãe que nunca fraquejou.

Amor pela alma que se alarga e que não vê limites.

Agora, nesse meu momento, pessoas como você se sentiriam mal só de estar perto. Porque não há lugar para o desamor, para o desafeto ou para o frio no coração.

Aqui e no meu entorno, só há o calor ameno que acolhe. Há a brisa fresca que despenteia os cabelos. Há beleza. Há muita vida na minha vida

Foi mal.

Não há vaga pra você. Nunca mais haverá lugar para você.

Adeus e que nunca mais nos cruzemos na vida.

Um beijo.

Daniela.

Sou normal. O mundo que é esquisito.

Eu sou normal. O mundo que é esquisito.

 

Acordei achando que estava atrasada para alguma coisa, como sempre.

Tentei lembrar de que poderia se tratar, mas não consegui.

Hoje teríamos filmagens, mas recebi uma mensagem dizendo que a diária foi cancelada devido ao mau tempo.

– Ok.  – Pensei.

Vou aproveitar e vou ao salão consertar a cor do cabelo, fazer as unhas e, de quebra, uma massagem, porque ando necessitada de mãos amassando meu corpo.

Seguiu-se o ritual de sempre.

Um banho. Uma roupa qualquer.

Já que estou indo ao salão, o cabelo é o de menos, então, vou de bruxa mesmo.

Dou uma checada na bolsa: carteira, documento do carro, remédios, filtro solar, meu moleskine e caneta. Ahhh, carregador do celular, já que essa merda dura meio dia na minha mão.

Antes de sair, ligo 17 vezes para o salão e ninguém me atente.

_ Como assim¿ Já deveriam estar abertos há pelo menos 20 min.

Não satisfeita, ligo para o celular da Kelly, mas ela não atende.

Eu penso: – Deve ser o horário de verão que acabou. Mas logo lembro que seria ainda pior, porque desfizemos o que tinha sido antes feito.

Ainda não desisti!!

Pego o carro e dirijo até a metade do caminho.

-Gennnnte. Porque está tudo fechado em pleno sábado?

(Nessa parte há uma pausa dramática, para que eu entenda o que está acontecendo.)

PAUSA DRAMÁTICA

A voz na minha cabeça começa:

Querida Daniela (vulgo EU),

Você está completamente louca!! Sinto ser eu a te dizer isso.

Você acordou, escovou os dentes e sentou-se à mesa da cozinha. Sua mãe veio e lhe disse que como é domingo e até então sua gravação estava de pé, iriam todos almoçar com seu irmão.

Você leu o jornal de domingo, inclusive a Revista de DOMINGO, que como o nome já diz, só sai aos DOMINGOS.

Você definitivamente não está bem!

Respondo mentalmente (porque em voz alta seria loucura)2016-01-28 13.21.07

à voz chata dentro da minha cabeça:

– Querida,

Obrigada, voz chata que vem sei lá de onde para me encher o saco.

Sou normal, o mundo que é esquisito.

 

Tem freguês pra tudo

Meu tio Otávio era relojoeiro daqueles antigos, curvado devante uma pequena bancada repleta de miudezas e engrenagens. Havia um maçarico no canto, ajustado à bancada, e era rara a destreza daquele mulato inzoneiro ao acender seu cigarro caporal Amarelinho, sem filtro, na chama azul que derretia metais. Achava assombroso este pequeno espetáculo do mestre Otávio. Na entrada da lojinha, na Rua da Glória, reinava seu inseparável papagaio baiano num poleiro aberto. Se os ricos tinham seu alarme em um cuco, Otávio tinha Alarico, malandro alado que falava sem sotaques e em bom tom seu bordão favorito:

“Corre Otávio”

Macho de muitas cabrochas era o meu tio. Tenho primos que descubro até hoje nesse tempo electrónico onde ninguém mais se esconde e onde falta uma graça, um golpe bem humorado na inocência que só um bamba de camisa de seda e calça panamá e sapatos bicolores saberia aplicar em algum incauto. “Tem freguês pra tudo”, dizia meu tio.

Pois vou lhes contar: Uma manhã de segunda feira um senhor com forte sotaque estrangeiro entrou na relojoaria e cumprimentou o tio ali envolvido com um velho relógio de corda. Pediu o gordo senhor, suado e vestido com o terno inadequado um conserto pro seu relógio de bolso que reluzia na sua mão e no vidro do monóculo do meu tio que já levantou como um passista de escola de samba e examinou a peça.

Bela máquina senhor, é raro um Mido como este. Deve ser bem de família, to certo ou to errado?

O momesco senhor narrava a historia de sua gente, da Europa de antigamente e meu tio abriu o “bobo” que é como ele chamava um relógio. “Bobo sim, porque trabalha pra homem de graça” dizia ele sem tremer o cigarro no canto da boca. Deu uma limpeza na máquina, deu corda no emergente que suava e falava pelos poros. Deu por terminada a tarefa e lustrou a peça de ouro. Levantou para entregar cerimonialmente o relógio ao gordo mas, antes acertou os ponteiros mirando ostensivamente para o famoso Relógio da Glória, aquele belo monumento que fica na curva da amurada da rua. O gordo mordeu a isca como um Baiacú. Comentou a beleza ostensiva do relógio no que meu tio com olhos turvos disse quase murmurando:

“Está à venda”

O homem gordo se enxugou desejando saber mais. Otávio nada disse, foi ao fundo da lojinha abriu um velho cofre que nem fechava mais e voltou com um certificado em letras trabalhadas (ele mesmo que fez, claro) e selos colados. Mostrou ao gordo estrangeiro e disse olhando nos olhos verdes da inocência:

“Tudo que sobrou da minha família, estou precisando vender. Tenho um câncer”

O gordo perplexo pediu o preço e meu tio mandou o que podia estar no bolso do otário.

“Cinco mil cruzeiros na minha mão e entrego o certificado de propriedade”

O gordo branquelo certo da ingenuidade do mulato, meteu a mão no bolso que retornou com um maço de notas novas e no embalo do gesto colocou sobre a bancada. Otávio contou saborosamente e comentou que tinha cinco mil e seiscentos cruzeiros, no que o gordo sorriu dentes mal tratados.

Recebeu o certificado comentando que traria um caminhão e homens para desmontar o relógio. Otávio concordou silenciosamente, o gordo seguiu pela rua e Alarico pontuou:

“Corre Otávio”

A casa

Esse não é um texto novo. Foi escrito assim que completei meus 40 anos. Hoje caminho para os 41, mas tenho considerações a fazer.

Quando o escrevi, não previ o que viria a seguir. Apenas esperava que fosse bom. Que a vida me surpreendesse.

E ela foi generosa, como nunca havia sido antes. 2015 foi o melhor ano da minha vida e veio com absolutamente tudo novo, como uma casa limpa e vazia, que vai-se tornando lar aos poucos.

Novos amigos, novas aspirações, novos amores e novos companheiros de quatro patas. À Filó juntaram-se Penny Lane, Goldiezilla e Sophie Bolota. Os gatos são os mesmos.

Uma nova vida, em branco.

Publico hoje esse texto até então privado, para que todos saibam que vale a pena um pouco de fé na vida.

Em breve conto sobre os 41.

A Casa

Como todos que saem de casa com o intuito de ficar fora por muito tempo, começo fechando as janelas.

Tranco as portas dos quartos, do corredor, da cozinha e finalmente a porta da frente da casa.

Nela ficam presos os meus medos, minhas dores do passado, meus monstros internos, minha baixa autoestima.

Essa é uma casa assombrada por muitos fantasmas. A escuridão de dentro nunca se mostrou no lado de fora. Tragou com um só fôlego de animal insaciável, sonhos e expectativas, esmagou projetos de vida, cortou a carne com suas vidraças, trancou o coração no sótão escuro, mas fortaleceu algo que perdurará.

Saindo da casa, eu a olho de frente e percebo que todas essas grades e o muro alto, impediram que muitos entrassem, mas impediram principalmente que eu saísse.

Saio agora.

Saio levando um menino sensacional de 11 anos, uma cadela louca resgatada chamada Filó, um gato chamado Gato e outro chamado Manoel.

Minha mudança se resume a uma mala de livros que me foram a salvação em inúmeros momentos.

Não preciso de ajuda com a mudança, pois, a nova casa está no outro quarteirão.

Caminhamos juntos pela alameda, pisando nas folhas caídas e sentindo o vento fresco da melhor estação do ano. O som que vem das copas, que dançam, é delicioso.

Cheguei.

Chegamos.

Paro em frente à nova casa.

Ela é linda.

Um sobrado antigo de cor azul profundo, com seus florões e adornos em branco. Portas e janelas em jacarandá amarelo. Um lindo contraste. Tudo está aberto. E não tem muros. Um jardim o rodeia e sinto o cheiro das flores.

Na nova casa, quem entra é bem-vindo e quem sai, vai em paz.

cropped-antc3addoto_header.jpgDo lado de fora posso sentir o cheiro de casa limpa. Aquela sensação deliciosa de se entrar num ambiente cheirando a frescor.

Apesar de ainda vazia, aos poucos será decorada.

Boas memórias, excelentes amigos, família reunida, risadas, noites de cinema, flores naturais, cheiro de comida gostosa vindo da cozinha, bons vinhos, boas conversas, ideais fortalecidos e uma imensa e inexorável paz.

Nela não há escuridão. Nela não há dor excruciante. Nela não há medo.

Pedro e os bichos entram correndo pela porta da frente, mas eu espero.

Minha hora de entrar é 12:45 e ainda falta um tempinho.

Não há ansiedade, não há expectativas ilusórias, não há embustes.

Nesta casa nova haverá somente amor.

Sê bem-vindo aos meus 40 anos.

 

De mãos dadas

de-maos-dadas_2505428Ei, Meu bem,

vem cá. Senta aqui do meu lado.

lVamos conversar. 

Eu quero que você saiba que pode contar comigo. 

Se você estiver qualquer dia perdido ou apenas quiser se desviar da sua rota traçada, vou contigo, se quiser ir acompanhado. Não se intimide. 

Eu te dou minha mão. 

Vou colocar minha mão na sua, não para te guiar pelo novo caminho. Vou te dar a mão para fazer companhia. Companhia silenciosa e contemplativa. 

Um passeio a dois pelo terreno não descoberto. 

As conversas não terão aconselhamentos embutidos. Serão de mútuo descobrimento. Discutiremos a total ausência de dedos em riste. 

Nada será apontado para nós, senão placas de proibido estacionar e semáforos verdes. 

O novo caminho é seu. Sempre será somente seu. Estarei ali por gosto e por amor. Fazendo companhia no silêncio da noite fresca e chuvosa. Ou naquele dia em que o calor é sufocante. Porque é mais simples a vida quando estamos de mãos dadas. 

Na dúvida, escolheremos a estrada na base do unidunitê. Também poderá ser no par ou impar. Mas nesse há um perdedor, e não gosto de vencer. Melhor o unidunitê. 

Poderemos parar naquela praça cheia de árvores cujas copas nos dão sombras deliciosas. Sentamo-nos na grama, tiramos nossos sapatos e damos descanso às nossas almas. 

Você pode retomar seu caminho a qualquer hora. Sempre que seu coração pedir. Porque são os desejos do coração os mais essenciais e urgentes. 

E assim, em passos largos e lentos, passearemos pelo seu descaminho, sem planejamentos ou cobranças, apreciando o tempo, as conversas e o amor. 

E assim será, sempre que você precisar. 

Conte comigo. 

Daniela Mesquita

A Fita

Meu antídoto da semana foi uma fita cinematográfica. O pessoal do tempo da película refere se assim ao rolo de fotogramas que a luz perpassa e ilumina a tela grande. Puig dizia que queria ser a luz que atravessa a fita e vira imagem. Adotei essas idéias.

A narrativa acontece numa ilha grega e acompanhamos um encontro de trabalho entre um escritor inglês, recém-chegado à Grécia de navio, e um nativo já com alguma idade, mas forte e ativo. O pano de fundo é a microcéfala vida dos habitantes deste mundo perdido em preconceitos, pobreza, raiva, e inveja. Com pavio trágico aceso a historia vai explodindo casos em plots quase documentaristas. As cenas são realizadas com elenco excepcional e figuras locais antológicas e críveis. Não há nenhum verniz de métodos, tudo é realisticamente teatral para que não esqueçamos que o discurso cinematográfico é politico.

A veia principal é a relação patrão-empregado ficando de lado e é na amizade entre o grego naif e louco e o escritor britânico e careta que encontra inspiração para sua vida até então dedicada apenas aos livros e de poucas aventuras.

Em um cena o naif grego pergunta ao escritor que respostas ele encontrou nos livros. Ele responde que encontrou apenas as angustias dos que fazem esta pergunta. O grego afirma que sem a loucura a vida não se revela, que ele pode arruinar a relação com idéias perturbadoras e incomuns. O inglês diz que topa. “repita isso”diz o grego e o inglês topa.

Esse é o antídoto que fará do retumbante fracasso, que acontece no trabalho, na cena magistral que cada vez que revejo renovo minhas células com o líquido das emoções. Os dois riem da falência e dançam juntos o Sirtaki na musica fabulosa de M. Theodorakis.

Zorba, o Grego  de 1964 é uma resposta humana e lúcida ao  mundo tecnológico. Uma lição de vida e um convite a aproveitarmos cada minutos intensamente, como se não houvesse amanhã, de maneira simples, mas buscando a felicidade nas pequenas coisas da vida. Nenhum blackmirror me proporciona uma Aventura como esta. Vou ali ser o Antony Quinn e volto sexta que vem.

AQO filme foi dirigido por Michael Cacoyannis e o personagem-título foi interpretado por Anthony Quinn — que não era grego, mas mexicano. O elenco incluiu Alan Bates como um visitante britânico. O tema, “Sirtaki”, de Mikis Theodorakis, tornou-se famoso e popular como canção e dança (especialmente em festas).

O filme foi rodado na ilha grega de Creta. Lugares específicos incluem a cidade de Chania, a região de Apocórona, nomeadamente na península de Drápano, e a península de Acrotíri. A famosa cena onde o personagem interpretado por Quinn dança o Sirtaki foi rodada na praia do vilarejo de Stavros.